sábado, 3 de janeiro de 2015

HISTÓRIAS DE FAMÍLIA-UM LIVRO MUITO ESPECIAL

Existem muitas histórias sobre a nossa família, umas são engraçadas outras nem tanto, mas a verdade é que sempre que a família se encontra sobram boas rizadas e muitas histórias pra contar, parece que por um breve momento as pessoas esquecem as diferenças e se permitem relembrar as coisas antigas e contar casos. Na minha família não é diferente, pois minha avó sempre cozinhou muito bem e contava pra mim muitas histórias da infância dela e dos tempos de mocidade, sempre fazendo coisas gostosas na cozinha.
 
Um dia meu avô me deu um presente muito especial, ele chegou perto de mim e disse que iria me dar uma livro de receitas que era da minha bisavó Castorina, infelizmente eu não a conheci, mas fiquei muito feliz com o presente, isso porque também adoro cozinhar. Quando eu abri aquela joia fiquei muito emocionada e lisonjeada, pois meu avô guardava aquilo como uma lembrança da sua mãe querida. Comecei a folhear as páginas e a rir sem parar, isso porque antigamente as receitas eram escritas de outro modo, citações como "O frango depois de depennado e bem limpo" , "Quando se mata uma galinha velha e bem gorda", "Ferva-se uma couve flôr pelo processo ordinário", "Ponha-se uma onça de manteiga em uma frigideira", "Pôe-se a afogar dois arráteis de carneiro partido pelo meio", "Deita-se a farinha de arroz em alguidar", "Descasca-se o pão amanhecido, como se descasca uma laranja para doce", "Mette-se a quantidade de olheira que se queira fazer, numa panela", "Limpa-se muito bem um miolo de vacca, tirando um véu cheio de nervos que  o cobre", "Faça-se cozinhar um dado numero de batatas, descascam-se e trituram em um almofariz", "Pegai n'uma perdiz morta e arranjai-a como se costuma", "Oito taboinhas de cacáu ralado" e etc...(não escrevi nada errado, essa era a escrita da época).
Eu poderia ficar aqui escrevendo e rindo o dia todo, realmente é muito divertido, ver não só o modo como se escreviam as receitas antigamente, mas também ver como a língua portuguesa se modificou ao longo do tempo. Esse livro chama-se "O cozinheiro brasileiro", aonde ficam as receitas salgadas  o outro livro chama-se "A dona de casa" aonde se encontram as receitas doces. Meu avô encadernou os dois juntos, se meu avô hoje está com 94 anos, imaginem a idade deste livro, acredito ser de 1910 ou menos.
 
Palavras como assucar, libra,grammas, tigela, n'uma, n'um, n'este, não são mais usadas atualmente, mas consigo perceber que existia um cuidado com as palavras e uma certa polidez ao escrever.
Lendo esse livro notamos que a maneira de escrever os pequenos textos eram bem formais e didáticos
para a época, pois antigamente era comum as pessoas matarem os animais para cozinhar, fazerem sua própria farinha, e comerem coisas que hoje em dia não são mais comuns em serem consumidos como pombos por exemplo.
Tem uma parte muito legal que diz assim:
"Depois de empreendidos os esforços para à compilação de um formulário de almoços e jantares adequados a cada dia de semana, especialmente escriptos e experimentados para esta obra, addiccionamo-lhe innumeras receitas culinárias dignas de figurarem no mais exigente menu.Recommenda-mos portanto O Cosinheiro Brasileiro as Exmas.Donas de Casa, que pretendem bem servir os seus convivas sem dissipar o seu dinheiro".
Isso não é muito divertido?Achei uma graça a maneira educada e formal de finalizar o livro, realmente muito elegante.
As vezes me pego olhando esse livro e sempre viajo nas suas receitas, fico imaginando a cozinha, as pessoas, e é claro as receitas, afinal como será que ficava um ovo verde servido ou um filetes de sole à la palestine ou também uma gemada do reino, rsrsrs.Fico imaginando minha bisavó escolhendo o que fazer para o almoço e jantar e meu bisavô esperando sentado numa cadeira de balanço e sentindo o cheiro bom que vinha da cozinha. As histórias da nossa família são combustíveis, pois é através delas que começamos as nossas e a dos nossos filhos, e passamos de geração em geração reescrevendo a vida.
 
Vou guardar esse livro para sempre e um dia darei para as minhas filhas e elas darão para os filhos delas e assim ficará viva a lembrança e a história continuará acontecendo.
Espero que todos se divirtam com essa primeira história de família.

Andréa

 
 

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